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Foto do escritorLuciana Menestrino Gonçalves

Filhas de Eva

Atualizado: 26 de out. de 2024



Hoje trago reflexões sobre a série “Filhas de Eva”, série brasileira que está disponível na plataforma GloboPlay e não estampa esse título por acaso, pois ela estreou em 2021 no Dia Internacional da Mulher. O nome já aponta para a herança carregada pelas representantes do sexo feminino, sendo que carregamos na história que desde que Eva mordeu o fruto proibido, tudo é culpa da mulher.


As “Filhas de Eva” são, portanto, aquelas mulheres que obedecem fielmente aos seus maridos e, por extensão, aos seus patrões, chefes, acusando e denunciando, muitas vezes, outras mulheres que não estejam dentro dos conformes.


“Filhas de Eva” acompanha a trajetória de três mulheres diferentes que se veem presas a padrões que não as fazem felizes. Stella, a protagonista se dá conta de que não aproveitou a vida como deveria e de que abriu mão de seus sonhos em prol do casamento e da maternidade e com ela se inicia a trama, onde na comemoração das bodas de ouro ela após rever o vídeo da sua história nesses 50 anos, algumas fichas caem de que simplesmente nesse período ela não viveu a vida dela e sim a vida do marido e para a filha, não sendo protagonista da sua própria vida, reproduzindo padrões sociais e culturais. E ela começa a romper esses padrões quando na festa pede o divórcio, rompendo com todas as crenças postas no sentido de o que os outros vão pensar, só pode estar louca, porque não decidiu isso antes, esperou a festa para fazer esse papelão e por aí seguem os comentários dos outros e a resposta dela frente a todos esses questionamentos, foi: “me deixa viver e me livrar dessas correntes”.


E a partir dessa decisão a sua vida vira de ponta cabeça, pois como era dependente do marido, ela não tinha como se sustentar e para fazer com que ela voltasse atrás das sua decisão ele cortou o crédito dela, deixando ela sem um tostão, pois segundo ele ela nunca fez por merecer, sendo que é um ledo engano, pois ela sempre esteve a disposição do marido, para seus eventos sociais, amizades por aparência, por interesses profissionais e políticos, agradar pessoas que nada tinham a ver com ela, mas por desejo do marido acabava se traindo em relação a esse convívio, nutrindo relações nada satisfatórias, sendo as mesmas como peças de xadrez que eram manipuladas conforme a necessidade do momento e deixando as relações positivas de lado, como a amiga de infância e adolescência que desde o casamento perdeu o contato e só resgatou após a separação.


Sem dinheiro para ficar num hotel ela acaba retornando para casa em que cresceu e quando entra na casa ela sente saudade da Stella antiga, que tinha uma vida, se não tivesse sido submissa teria se consolidado numa carreira e teria se realizado como mulher.


Aqui trago o ponto que acreditar em modelos é perigoso, pois podem ser o que não parecem, por exemplo o casamento da Stella com Ademar, que quem olhava de fora parecia um mar de rosas e quem estava vivendo a história não era bem assim, pois viviam de aparências, um mundo de ilusões e é auto engano viver uma vida que não é real, uma vida em que não somos realizados se torna uma vida de frustrações, de mágoas, de somatizações, onde o corpo nos dá sinais de que algo não vai bem e muitas vezes acabamos negligenciando esses avisos.


Outro ponto de reflexão sobre a personagem Stella é sobre não ter sua independência financeira e isso aprisionou ela por muito tempo ao marido, pois tinha uma vida confortável, a qual nem sempre é tão fácil abrir mão de alguns luxos que a mesma proporciona e com isso ela se manteve presa durante 50 anos nesse relacionamento. E aqui trago uma frase que sempre ouvi da minha avó paterna: “Meu bem meu bem, meus bens meus bens”, em relação ao divórcio, pois segundo ela poderíamos viver anos ao lado de uma pessoa, mas só saberíamos as reais intenções dela na separação e daí ela trazia essa frase que condiz muito com o que aconteceu com a separação da Stella e Ademar, que ele mostrou quem realmente era após a separação.


Outra personagem que trago aqui é a filha da Stella, Lívia, psicóloga bem sucedida, casada com Kléber, também psicólogo com uma filha adolescente, Dora. Lívia é uma mulher controladora, acredita viver num mundo perfeito, mega conservadora, se espelha muito na história dos pais, se inspirando nesse modelo, sendo que a diferença da mãe e ela, é que ela tinha uma profissão e era independente financeiramente do marido, mas em contrapartida totalmente dependente emocionalmente e isso fazia com que ela fizesse escolhas que traíram a sua autenticidade, seu amor próprio para não desagradar o marido.


Exemplo claro foi quando ela foi convidada para o programa da Fátima Bernardes para falar sobre a tese dela e quando foi contar para o marido o mesmo reagiu com indiferença, não vibrando com o sucesso da mulher, fazendo questão de diminuir a sua capacidade e competência profissional, não sabendo lidar com as conquistas dela. E percebendo essa insatisfação dele, ela desistiu de ir ao programa e indicou o marido para ir no seu lugar, o qual ficou envaidecido e o pior do desfecho dessa história é ele ter copiado a fala dela sobre a tese que ela desenvolveu, sendo como a dele e com isso ele acabou se destacando, assumindo o sucesso que deveria ser dela.


O sucesso subiu à cabeça dele, acabou traindo ela, pois não se sentia feliz no casamento e por fim se separaram. No início foi bem difícil para Lívia, mas com a ajuda da mãe Stella, da filha Dora e da amiga Cléo, ela conseguiu superar e dar a volta por cima, conseguindo se libertar da dependência emocional que tinha pelo Kléber. Resgatou a sua essência, a sua liberdade e a sua autenticidade, resgatando a sua autoestima.


A outra protagonista da história é Cléo que desde pequena lida com a indiferença da mãe frente ao irmão, pois a mãe sempre confiou e acreditou no irmão, desacreditando dela, passava a mão na cabeça do filho e quem levava a culpa era Cléo, sendo que o irmão sempre foi a ovelha negra da família e ela a defensora. Mas o ponto de reflexão aqui é que quando não queremos enxergar o que está na nossa frente não tem o que faça mudar, somente quando nos deparamos com a realidade é que as coisas se esclarecem, mas enquanto estivermos vendadas, nada muda. E essa mudança está nas nossas mãos, de mais ninguém.


A vida das protagonistas se cruzam desde o início da série, mostrando a realidade de ambas, cada uma dentro do seu contexto de vida, mas que acabam se apoiando umas às outras, nas suas dores e nos seus amores.


Alguns pontos que resumem esse tema:

  • Nunca perder sua autenticidade para agradar os outros;

  • Nutrir as verdadeiras relações;

  • O que a vida quer da gente é coragem;

  • Colocar a culpa nos outros, sendo que a responsabilidade das escolhas é nossa, ou seja, assumir sua autorresponsabilidade.

Tudo que é vivo muda, pois em cada ciclo da nossa vida temos determinadas necessidades, amadurecemos frente aos aspectos da mesma e com isso acabamos fazendo outras escolhas que até um tempo atrás nos faziam bem ou achávamos que nos faziam bem até perceber que não fazem mais sentido e por isso mudamos e, ainda bem que mudamos, pois é gratificante demais olhar para trás e ver que a nossa versão atual é muito melhor que a versão passada.


Bora lá se realizar e ser protagonista da sua vida!


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