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Foto do escritorLuciana Menestrino Gonçalves

Reflexões sobre a Morte

Atualizado: 26 de out. de 2024



O livro “A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver”, escrito pela médica Ana Claudia Quintana Arantes, é uma mistura bem elegante de conceitos relacionados a cuidados paliativos e reflexões sobre a vida diante da perspectiva da morte.


Abaixo trago alguns pontos relevantes de reflexão sobre o que ela aborda no livro:

  • Desejar ver a vida de outra forma, seguir outro caminho, pois a vida é breve e precisa de valor, sentido e significado. E a morte é um excelente motivo para procurar um novo olhar para a vida;

  • Quase todo mundo pensa que a norma é fugir da realidade da morte, mas a verdade é que a morte é uma ponte para a vida, despratique as normas;

  • A minha vida encheu-se de sentido quando descobri que tão importante quanto cuidar do outro é cuidar de si;


CUIDADOS PALIATIVOS – O QUE SÃO?

  • «Cuidados Paliativos consistem na assistência, promovida por uma equipe multidisciplinar, que tem como objetivo a melhoria da qualidade de vida do doente e dos seus familiares diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.» OMS;

  • Penso que todo médico deveria ser preparado para nunca abandonar o seu doente, mas na faculdade aprendemos apenas a não abandonar a doença dele;

  • O médico que busca o conhecimento sobre «cuidar» com o mesmo empenho e dedicação que leva para o «curar» é um ser humano em permanente realização;

  • Não há fracasso diante das doenças terminais: é preciso ter respeito pela grandeza do ser humano que enfrenta a sua própria morte;

  • As pessoas morrem como viveram. Se nunca viveram com sentido, dificilmente terão a chance de viver a morte com sentido.


EMPATIA OU COMPAIXÃO

  • Empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro, mas ela tem o seu perigo; a compaixão, não. A compaixão vai além da capacidade de se colocar no lugar do outro; ela permite-nos compreender o sofrimento do outro sem que sejamos contaminados por ele. A compaixão protege-nos desse risco. A empatia pode acabar, mas a compaixão nunca tem fim. Na empatia, às vezes cega de si mesma, podemos ir na direção do sofrimento do outro e nos esquecermos de nós. Na compaixão, para irmos ao encontro do outro, temos de saber quem somos e do que somos capazes.


CONSIDERAÇÕES SOBRE O TEMPO

  • Quando temos a experiência do tempo, o que determina o significado do que foi vivido é o «como foi vivido». O tempo confere sentido àquilo que foi vivido, independentemente do ocorrido;

  • A percepção do morrer traz a consciência de que nada do que temos ficará conosco. O nosso tempo por aqui não voltará, pois não é possível economizar tempo, poupar tempo e acabamos gastando tempo com palermices, com sofrimentos desnecessários;

  • Não é possível segurar o tempo. Em relação a ele, a única coisa de que nos podemos apropriar é a experiência que ele nos permite construir o tempo todo;

  • Quando vem a percepção de que estamos a abandonar o nosso tempo, matando-o, então a escolha é muito mais urgente; a mudança tem que vir agora mesmo;

  • Quando adoecemos, a percepção que temos do tempo é muito diferente da de quando estamos saudáveis. O tempo da espera parece durar para sempre. A espera é muito difícil: é o oposto da atividade. Como a pessoa não pode fazer coisas, é como se não estivesse viva;

  • O tempo acaba, mas a maioria das pessoas não percebe que, quando olha o relógio repetidas vezes à espera do fim do dia, na verdade está a desejar que o tempo passe mais rápido e a sua morte se aproxime mais depressa;

  • O que separa o nascimento da morte é o tempo. Vida é o que fazemos dentro desse tempo; é a nossa experiência. Quando passamos a vida à espera do fim do dia, do fim de semana, das férias, do fim do ano, da reforma, estamos a torcer para que o dia da nossa morte se aproxime mais rápido;

  • A opção «vida» não é um botão «on/off» que ligamos e desligamos conforme o ambiente ou o prazer de viver. Com ou sem prazer, estamos vivos 100% do tempo. O tempo corre em ritmo constante. A vida acontece todos os dias, e poucas vezes as pessoas parecem dar-se conta disso.


COMO AJUDAR ALGUÉM A MORRER

  • A morte um dia vai bater à porta. Poderá vir acompanhada de uma doença e de sofrimento. Estejamos preparados ou não. Então, pressupor que precisamos nos preparar para a morte não ajuda a evitar esse encontro. Mas ajuda a evitar o medo desse encontro e a transformá-lo em respeito;

  • As pessoas pensam de uma forma ingénua: «Se eu não olho para a morte, ela não me vê. Se eu não penso na morte, ela não existe.» E é essa ingenuidade que as pessoas praticam o tempo todo com a própria vida. Pensam que, se não olharem para o lixo de relação afetiva, o lixo de trabalho, o lixo de vida que preservam a qualquer preço, será como se o lixo não existisse. Mas o lixo faz-se presente. Cheira mal, traz desconforto, traz doenças;

  • Viver como mortos faz com que essas pessoas não consigam viver verdadeiramente. Existem, mas não vivem. Há muitas à nossa volta. Eu os chamo de “zumbis existenciais”;

  • Estão ausentes da própria vida, e isso talvez seja a maior causa de arrependimento experimentado no fim da vida;

  • Não há espaço para falar sobre a morte com pessoas que não estão vivas nas suas vidas;

  • O ser humano é a única espécie na Terra que é definida por um verbo. Vaca é vaca, boi é boi, borboleta é borboleta, mas ser humano, só nós. Nascemos animais, mamíferos pensantes e conscientes, mas só nos tornamos humanos à medida que aprendemos a ser humanos;


“E É SÓ PELA CONSCIÊNCIA DA MORTE QUE NOS APRESSAMOS A CONSTRUIR ESSE SER QUE DEVERÍAMOS SER.”


A VERDADE PODE MATAR?

  • O que mata é a doença, e não a verdade sobre a doença;

  • As famílias pensam que poupam os seus amados quando mentem, sem saber que seus amados também mentem para poupá-los;

  • Quando dou ao doente a chance de saber sobre a gravidade da sua condição, essa verdade traz a oportunidade da pessoa aproveitar o tempo que lhe resta de maneira consciente, com o protagonismo da sua vida, da sua história;

  • Quando, na proximidade da morte, poupamos um ser humano da consciência das suas urgências, da importância do tempo de estar vivo antes de morrer, não conseguiremos interromper o processo de morrer. Conseguiremos privá-lo de viver.


ARREPENDIMENTOS

  • A autora traz a citação do livro “Antes de partir – Uma vida transformada pelo convívio com pessoas diante da morte”, da enfermeira australiana Bronnie Ware, onde ela descreve os cinco maiores arrependimentos das pessoas antes de morrer. Na semana que vem trarei o detalhe de cada um, mas de forma resumida, segue abaixo quais são os 5 arrependimentos:

  • Eu gostaria de ter priorizado as minhas escolhas em vez de ter feito escolhas para agradar aos outros;

  • Demonstrar os sentimentos;

  • Trabalhar demais;

  • Passar mais tempo com os amigos;

  • Deveria ter feito de mim mesmo uma pessoa mais feliz.


AS NOSSAS MORTES DE CADA DIA

  • Passamos a vida a tentar aprender a ganhar;

  • No entanto, saber perder é a arte de quem conseguiu viver plenamente o que ganhou um dia;

  • Cada perda existencial, cada morte simbólica, seja de uma relação, de um trabalho, de uma realidade que conhecemos, precisa pelo menos de três padrões de sentido. O primeiro diz respeito ao perdão, a si mesmo e ao outro. O segundo é saber que o que foi vivido de bom naquela realidade não será esquecido. O terceiro é a certeza de que fizemos a diferença naquele tempo que termina para a nossa história, deixamos um legado, uma marca que transformou aquela pessoa ou aquela realidade que agora ficará fora da sua vida;

  • Aceitar a perda tem uma função vital na nossa vida que continua;

  • Essas perdas simbólicas podem ser mortes mais difíceis de lidar do que a morte real. Na morte real não há discussão. Porém, a morte simbólica ou a morte de uma relação, de um trabalho, de uma carreira às vezes deixa a impressão de que não foi realmente morte – há algo vivo, ainda;

  • Só conseguiremos passar para a próxima etapa se tivermos uma destas três confirmações: de que perdoamos, deixamos a nossa marca ou levamos a história conosco e tiramos dela as aprendizagens possíveis;

  • A melhor forma de continuarmos vivos, apesar dessas mortes que acontecem ao longo da vida, é estar presente nelas;

  • A busca pelo controle da situação impede a experiência da entrega;

  • Viva, experimente essa dor, não fuja, não minimize covardemente aquilo que foi vivido antes.


A VIDA DEPOIS DA MORTE: O TEMPO DO LUTO

  • Quando a morte acontece, ela só diz respeito ao corpo físico;

  • O processo de luto inicia-se com a morte de alguém que tem grande importância na nossa vida;

  • Quando o vínculo rompido era feito de amor genuíno, então temos muita dor, mas, ao mesmo tempo, esse amor vai levar-nos pelo caminho mais breve em relação ao alívio daquela. A dor do luto é proporcional à intensidade do amor vivido na relação que foi interrompida pela morte, mas também é por meio desse amor que conseguiremos reconstruir-nos;

  • O luto é o processo que sucede o romper de um vínculo significativo;

  • Quando perdemos definitivamente a ligação com alguém importante, alguém que para a nossa vida representou um parâmetro de nós mesmos, é como se nos privássemos da capacidade de nos reconhecermos;

  • A reconstrução da nossa vida, ou seja, o reencontro com o sentido dela a partir da perda de alguém muito importante dá-se ao longo do processo de luto;

  • Essencialmente, o luto é um processo de profunda transformação;

  • Tudo o que aprendemos com aquela pessoa que morreu permanece dentro de nós;

  • A pessoa de luto jamais será privada das lembranças e dos sentimentos. O Amor não morre com o corpo físico. O Amor permanece sempre;

  • Chorar essa emoção é como tomar banho de mar de dentro para fora. Tudo pode morrer, exceto o Amor. Só o Amor merece a imortalidade dentro de nós.


Ótimas reflexões!



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