Trago hoje alguns pontos de reflexão sobre o livro “Síndrome da Impostora: Porque NUNCA nos achamos boas o suficiente?” escrito pela Rafa Brites que de uma forma muito leve e descontraída nos faz refletir sobre pontos tão importantes do nosso dia a dia sobre por qual motivo parece que temos prazer em nos autossabotar, nos desvalidar, nos desacreditar que somos capazes, que somos competentes e que podemos ser sim, tudo que quisermos, basta ir para ação e acreditar na nossa capacidade.
Neste livro, ela conta as suas experiências, explica sobre essa síndrome e suas complicações, e também algumas maneiras de a acolher e controlar (em vez de deixar que ela nos controle).
Abaixo trago algumas reflexões práticas sobre os temas abordados no livro:
O sentimento de incapacidade, de não ser boa o suficiente, não está relacionado apenas à cultura local, mas sim universal;
Esse sentimento de incapacidade é reflexo de toda uma construção histórica patriarcal. São fatores externos que se refletem, de maneira brusca, em nosso interior;
Enquanto procurarmos aprovação externa, nunca seremos boas o suficiente;
Os elogios, os diplomas, os cargos nunca suprirão a carência interna;
A cada passo que damos, em vez de alimentar a autoestima, a sensação é de estarmos mais vulneráveis, o medo fica maior;
Como combatemos o medo até aqui? Com autossabotagem, autoboicote, procrastinação, autodepreciação, ou seja, combatemos o medo com covardia;
Mas isso muda quando entendemos que a saída é para dentro;
Enquanto não mergulharmos no nosso interior e formos em busca das raízes que nos levam a ter esses sentimentos, não teremos forças para combater a Impostora que existe em nós;
Essa síndrome é considerada um problema universal, ou seja, não restrito a idade, gênero, raça, profissão, classe social. Porém, parece que ela é mais forte ou comum entre pessoas de grupos sociais com baixa representatividade ou em situação de desvantagem, nesse caso, nós mulheres;
Ela não é uma doença ou anormalidade, é mais um sentimento, uma experiência que a gente vivencia em situações específicas;
Todo mundo sente medo, ansiedade ou dúvida de vez em quando. A diferença da Síndrome da Impostora é que ela causa um ciclo constante de vergonha e embaraço, paralisando a pessoa e a levando a duvidar de si o tempo todo: “Será que mereço isso?”, “Será que consigo aquilo?”, “Será que dou conta?”;
E como podemos lidar com ela? O mais importante é admitir que é um problema; depois é se informar sobre esse tema; e por fim, conversar sobre esse tema;
É importante entender que o impacto é interno, mas as origens são externas;
A autora cita algumas situações que a Síndrome da Impostora pode aparecer no nosso dia a dia:
1. Você foca na única coisa que não está perfeita em vez de olhar para as 1.001 que deram certo, foca no negativo e não no positivo;
2. Você acha que qualquer um faria o que você faz, que tudo é muito simples e que não merece reconhecimento;
3. Você pensa que algo só tem valor se for difícil;
4. Você nunca faz o suficiente, vive se comparando com pessoas totalmente diferentes dela ou estabelece padrões que nem Deus conseguiria satisfazer;
5. Você valoriza a sensação de Impostora, você não pode relaxar, senão será desmascarada.
6. Você está ocupada demais sentindo coisas, se concentra nos sentimentos e pensamentos negativos que não tem tempo nem energia para executar as coisas e como imagina que tudo vai dar errado, acaba nem tentando, não vai para ação;
7. Você só aplaude os outros e fica míope em relação a si mesmo, reconhece e aprecia a jornada dos outros, mas não consegue fazer o mesmo com a sua jornada.
As mulheres, sem dúvida, sofrem mais da Síndrome da Impostora que os homens;
Ela fala sobre EMPACAR, onde destaca da seguinte forma:
Evidência: Estar em evidência é uma situação de extrema vulnerabilidade. Por medo da evidência, podemos nos tornar muito egoístas. Para ajudar e mudar situações, temos que nos expor. Dar as caras e falar para quem quiser ouvir.
Machismo: Ambientes machistas são sempre muito propícios para acordar a Impostora. Temos que provar o tempo todo que somos competentes e que não estamos ali só para enfeitar a reunião da empresa.
O machismo estrutural é uma das ameaças mais tóxicas para a nossa autoconfiança.
Poder: Situações de poder são especialmente desafiadoras para quem tem a Síndrome da Impostora, porque a liderança feminina na atual sociedade capitalista é algo que ainda está engatinhando.
Ao alcançar um posto de liderança e ficar pensando demais na situação, damos espaço para a Impostora, que começa a divagar e questionar as habilidades que nos colocaram lá.
Avaliação: Provas, testes, concursos públicos, entrevistas de emprego, em todos eles temos muito medo de falhar e por esse motivo usamos o mecanismo de negação, “Eu nem queria mesmo”.
Quando se vê numa situação de possível rejeição, já nos desculpamos, dizendo que não era isso que queríamos, mas não é verdade.
A Impostora usa o subterfúgio da procrastinação, falta de tempo, preguiça e falta de vontade, entre outros, para não ter que enfrentar o fracasso. E vamos distribuindo essa desculpa para nós mesmas e para os outros antes da avaliação chegar.
Confronto: A Impostora acha que toda troca de ideias vai virar um campo de guerra. E ela teme isso. Não se sente à vontade para confrontar porque quando indaga ou confronta a ideia ou o posicionamento de alguém, ela sabe que está suscetível a ser confrontada também.
Ascensão: Para a Impostora, cada degrau que subimos faz a pressão aumentar. O que para muita gente seria motivo de comemoração, orgulho e uma massagenzinha no ego, para nós, Impostoras, é um poço de preocupação.
A sensação é inversamente proporcional: quanto mais sucesso, menos confiança. Por isso, sempre que somos promovidas, aprovadas, indicadas, selecionadas, sentimos que é uma injustiça com os demais.
É triste: lutamos tanto por alguma coisa, mas, quando a conquistamos, só conseguimos imaginar que não estamos preparadas.
Reconhecimento: A impostora transforma o momento do elogio num grande evento, como um teste ou uma auditoria, quando deveria ser só uma gentileza.
A ignorância e a desinformação sobre como funciona o corpo de metade da população mundial coloca em xeque a capacidade da mulher, como se o desequilíbrio fosse um traço da natureza feminina. Além disso, detonam a autoconfiança feminina e minimizam a situação que causou o estresse;
Às vezes, a Síndrome não tem a ver com o fato de você não se sentir capaz. É só uma questão de você não estar sendo você mesma;
Uma tendência da Síndrome da Impostora é a de ser incapaz de viver o presente, pois acaba focando no passado e no futuro. É o passado jogando a culpa e o futuro trazendo ansiedade;
Obviamente é importante avaliar o nosso passado e aprender com ele ou ressignificá-lo para nos tornarmos mais fortes. Pensar no futuro também é inevitável, desde que isso seja feito como prevenção;
Você deve pensar que o que você tem no aqui e agora é tudo que você tem, tudo que de fato pode mudar e tudo o que pode experimentar com todos os sentidos;
Quando estamos conectados com a realidade que nos cerca agora, nada mais importa. Nem o que passou, nem o que virá;
A Impostora tem uma mãe e ela se chama “Comparação”;
Na comparação, focamos nos recursos que não possuímos e usamos como referência os resultados de outras pessoas, e isso gera frustração em nós. Por outro lado, a "Inspiração" nos leva a adaptar nossos recursos e a aprender com o caminho que outras pessoas percorreram para o sucesso, e isso nos motiva;
Um exercício que deve ser feito para ressignificar a comparação para inspiração é pensar em alguém com quem você constantemente se compara e tente mudar o olhar para ela, busque inspiração em de vez de comparação;
A Síndrome da Impostora não está restrita a pessoas bem-sucedidas, com altos cargos, nem somente a mulheres. Ela é "democrática": pode atingir qualquer pessoa com dificuldades de pertencimento. Isso porque, na verdade, o mundo ainda não é “democrático”. Muito pelo contrário: ela ainda é injusto, preconceituosa, desigual e cruel;
E agora trago os pontos de virada que ela cita para que consigamos sair da paralisia da Síndrome da Impostora, que é BRILHAR:
Basta: O primeiro passo depois de você se reconhecer em tantas características da Síndrome da Impostora é decidir que não quer mais empacar. É fazer a promessa de que estará atenta a todo e qualquer gatilho que possa fazer a Impostora dominar.
O caminho do autoconhecimento é o capítulo inicial de toda a mudança. Quando você se achar capaz e interessante, aí sim irá oferecer ao mundo a sua melhor versão.
Temos que ver a falha como uma oportunidade de progredir.
Viver em estado de alerta é importante, pois quando damos um basta na voz interior de depreciação, quando a entendemos e a substituímos por uma voz acolhedora e motivadora, começamos a trilhar um caminho maravilhoso e sem volta.
Reconexão: É preciso se reconectar com sua história e seus talentos para resgatar seu valor. Perdemos a conexão quando aprendemos a nos comparar. Aí estabelecemos padrões que não refletem quem somos.
É importante nos reconectarmos com o nosso passado, as nossas histórias, a ressignificar, não “apagá-los” nem “menosprezá-los”, mas entender qual foi o aprendizado.
Nossa história faz de nós pessoas únicas. Ela nos dá sabedoria. Sabedoria também vem de vivência. Quando nos desconectamos das nossas origens, deixamos para trás também o saber.
Enquanto você não se reconectar com a sua história e reconhecer sua singularidade e seu valor, não estará cumprindo seu propósito. E aí, vai se frustrar por tentar caber no espaço que é do outro.
Sua beleza e seu valor estão na sua singularidade, e não no quanto você se esforça, se dedica, se empenha. Enquanto não se assume e não se aprofunda em si mesma, para potencializar o seu eu, você sempre será o fake de alguém e o mundo todo sai perdendo.
Informação: Ela nos liberta e abre caminhos para a mudança. Estudar a nossa história é fundamental para entender o reflexo dela na sociedade e em nossa vida.
Quem não entende de onde vem dificilmente consegue entender onde está e isso é campo fértil para uma Impostora.
Inspire-se na história de outras pessoas para escrever a sua própria história, chegar às suas próprias conclusões e criar sua própria estratégia.
E tome cuidado com a informação que você consome, pois:
Informação boa é aquela que nos dá condições de caminhar com as próprias pernas;
Não olhe para o depoimento de outras mulheres como o único caminho sagrado a seguir e sim inspire-se nelas, em vez de se comparar a elas;
Não faça da informação ou da falta dela um empecilho para brilhar.
Luta: Existe uma luta individual e interna que combate os efeitos da Síndrome da Impostora e essa luta é a mudança do ambiente. Precisamos mudar ambientes e situações que geram e fazem proliferar a Síndrome da Impostora. Temos que construir uma atmosfera em que ninguém sinta a necessidade de se mascarar como Imposta para se achar capaz.
Hábito: Entende-se que a Síndrome da Impostora não tem uma cura, mas por meio do hábito podemos controlá-la para que ela não ofereça riscos para a nossa saúde mental e emocional.
Alguns bons hábitos para você colocar em prática:
Monitore os pensamentos;
Identifique os obstáculos;
Prepare estratégias para lidar com os obstáculos;
Visualize o sucesso;
Recompense-se.
Acolhimento: Crescemos aprendendo a falar com os outros de maneira educada e aprende a fazer elogios e perguntar se precisam de ajuda, mas somos analfabetas em relação a nós mesmas, não nos tratamos de forma generosa, solidária, não acolhemos o nosso Eu Interior.
Rede de Apoio: Quando a gente toma coragem de se abrir e compartilhar como se sente, as pessoas vão se identificando. Você percebe que não é a única que duvida de si mesma. Com isso, em vez de se sentir excluída e deslocada, você se vê como parte de uma comunidade enorme, transcultural, super abrangente: a Sociedade Secreta das Impostoras Anônimas.
Quebrar o silêncio e expor seus sentimentos é libertador.
Falar sobre a Síndrome da Impostora e ser franca sobre os próprios sentimentos é, até hoje, a maneira mais certeira de lidar com a sensação de fraude. Por isso, precisamos estar dispostas a romper o silêncio e criar redes de apoio ao nosso redor.
Como em toda a rede, além de receber suporte, você deve estar pronta para oferecê-lo. Fique atenta aos gatilhos do EMPACAR e muitos outros que podem atingir mulheres à sua volta. Seja essa força para as pessoas próximas a você.
Uma das maiores dificuldades de uma Impostora é negar algo para alguém. Como sempre, precisamos sentir que fomos além. Que nos esforçamos mais. Ficamos mais disponíveis do que deveríamos. Dizer "NÃO" é uma tarefa quase impossível. Mas o que importante deixar claro é que o "NÃO" é uma frase completa, começo, meio e fim: está tudo aí dentro;
Carreira é tudo o que você constrói ao longo da vida. Ao mudarmos de profissão, não deletamos o que já foi vivido. Muito pelo contrário, levamos uma bela bagagem, que dividimos em 5Cs:
Conhecimento, todas as trocas que fizemos no decorrer da nossa trajetória;
Contatos, pois cada um que passa pela sua vida é importante para o seu crescimento profissional e pessoal;
Cofrinho, se refere ao dinheiro que você está ganhando pelo seu trabalho ou que consegue guardar;
Curtição, é ter o prazer no que você faz;
Contribuição, de que forma seu trabalho está contribuindo na vida das outras pessoas e que tipo de valor ele gera.
Não tenha medo de mudar, pois o mundo não irá parar e esperar que você se sinta totalmente segura;
Muitas das nossas travas, dos nossos nós, se dão por esse enorme medo de sermos julgadas;
Todos nós, ao julgarmos, passamos por um processo cognitivo que envolve nossa cultura, nossa história de vida, nosso contexto, nossas vivências, nossos valores. É impossível fazer um julgamento sem envolver nele quem nós somos;
Se todo julgamento necessariamente traçar esse caminho interno, ele, na verdade, confessa todos esses diversos fatores da pessoa que está julgando. Por meio do julgamento que faz, uma pessoa confessa muito sobre si;
Todo julgamento é uma confissão;
A grande beleza do autoamor e da autoaceitação é saber que podemos evoluir, que somos gratas pelo que recebemos e conquistamos. Mas também é saber que existe espaço para ser uma versão melhorada e nós mesmas;
O melhor caminho para crescer? A humildade;
A arrogância é a moeda do inseguro. Se você se sente mal, pode tentar criar a ilusão de ser “melhor” porque precisa diminuir o outro para se sentir bem;
A verdadeira autoconfiança não é se achar melhor que ninguém. É justamente saber a diferença entre comparação e inspiração;
A pessoa confiante não diminui ninguém, porque ela não se sente ameaçada por ninguém;
A ideia é que, quanto mais nos amamos, mais aceitamos nossas vulnerabilidades. Quando não sabemos logo, não nos culpamos, mas ficamos empolgadas com a ideia de aprender.
Em síntese, combater a Síndrome da Impostora não significa se achar melhor que alguém. É se considerar semelhante a todos. Se o outro puder, eu também posso!
“Ame as pessoas e use as coisas. O contrário nunca fará você feliz.”
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